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quinta-feira, abril 21, 2011

Dor


   Há quem diga que mais vale um braço quebrado que um coração partido. Não posso discordar. Um braço quebrado dói, um coração partido dilacera. Um braço quebrado leva um tempo para curar, um coração partido uma vida. Uma visita ao hospital, um molde de gesso, o braço está inteiro novamente. Uma visita à casa do garoto, uma foto, o coração está feito em mil pedaços, e mais, se espeta. Pedaço contra pedaço se comprimem, dá pra sentir, tentam encontrar seu lugar mas não há receitas médicas para ajudar. Não há um remédio além do conhecido tempo, mas este demora tanto para fazer efeito que a dor da cura se confunde com a dor da ferida.
  Não consigo ficar parada, me mecho e a cada movimento dói mais. A essa altura, caquinhos de coração já se espalharam por toda parte e perfuram cada centímetro de minha pele. Durante o dia, meu corpo parece absorver somente coisas que fazem agravar a situação. Flores, perfumes, fotos, cartas, músicas. À noite, os lençóis com os quais me cubro me lembram sua pele. Meu travesseiro nunca pareceu tão duro, perto às lembranças de minha cabeça apoiada em seu ombro.
   Ao crescermos aprendemos a não chorar mais com dores físicas, elas existem, estão lá, sendo sentidas, mas não demonstramos isso. Se ao menos isso acontecesse com minha dor emocional, eu conseguisse uma maneira de parar de chorar, gritar, murmurar, é, eu desejaria crescer rápido.

sábado, abril 16, 2011

Café com chuva


Essa noite eu tive um sonho. Sonhei coisas bobas, como achar uma nota de dez reais no chão e uma visita de meus pais. Tudo bem, acordei pela metade e passei alguns minutos achando que tinha sido realidade. Verifiquei minha carteira, não havia nenhuma nota de dez reais. Liguei para meus pais, não houve visitas. Finalmente acordei do sonho. Lembrei de você, dos nossos beijos, abraços, risadas, olhares. Foram sonhos também? Quem sabe um sonho da noite anterior, ou até algo que eu pense todas as noites ao fechar os olhos. Procurei seu número para te ligar, não achei. Foi um sonho? Procurei uma foto nossa, não achei. Foi um sonho? Procurei uma carta, nada. Foi um sonho? Até aquele livro que ganhei, eu tinha certeza que estava no armário, mas sumiu. Ou nunca existiu? Foi um sonho? Peguei uma xícara de café, abri a janela e vi que caía uma leve chuva. Foi um sonho? Não, foi um erro.

sexta-feira, abril 01, 2011

 Ela o amava como uma sonhadora, que se encanta com aquela nuvem que parece ser feita de algodão-doce. Acontece que uma hora a nuvem se desfaz e a sonhadora percebe que era só isso: uma nuvem. E, ainda assim, ela agradece por não formar uma tempesta